domingo, 10 de agosto de 2008

SOMOS TODOS CRIANÇAS BRINCANDO À BEIRA MAR

(para Jussa Winsch)

Somos todos crianças brincando à beira mar. Com a areia molhada construímos casas e pontes. Alguns de nós fazemos nossas pequenas e rústicas fortalezas próximas demais do capricho das ondas, onde são rapidamente aniquiladas. Então choramos, choramos a desilusão, choramos a perda de impérios, choramos castelos de areia.

Com o passar do tempo adquirimos mais experiência e nos distanciamos do tumulto das paixões e nosso trabalho torna-se mais suntuoso, os sinais da habilidade começam a se manifestar. Porém a subida das marés, traz o caos após cada ciclo, encerrando estes novos sonhos. E uma vez mais revoltamo-nos com a crueldade do destino que nos abandonou à mercê dos ritmos da vida.

Afastamo-nos mais da água e, quase adolescentes, criamos com tranquilidade torres e arquitraves, oitões e cornijas góticas. Esculpimos criaturas marinhas e seres fantásticos, mas a maresia nos leva embora sereias e palácios. O vento os corrói e desfigura, porém aqueles que até o momento mantém-se firmes, modelando e remodelando diariamente, experimentam uma estranha sensação. É neste dia que a missão realmente começa, pois percebemos que ao contrário da areia que não comporta obras perenes, da essência humana são os lides da rocha maciça. Abandonamos então a praia sem olhar para trás e vamos para outras terras, onde nossas obras desafiarão o tempo.

Alguns, em avançada idade, à orla marítima retornarão para instruir aos futuros arquitetos. Estes, que são os mestres de ofício, devotam o seu melhor à continuação da empreita. Contudo, não importa quão longe cheguemos, começaremos sempre com castelos de areia.

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