domingo, 10 de agosto de 2008

CHUVA SOBRE A TERRA

“Olhai os lírios no campo...”

J. Cristo

Ontem à noite choveu. Não choveu grosso, não choveu forte, simplesmente choveu. E de manhã, no ponto de ônibus, quando ia ao trabalho, as pessoas reclamavam como sempre, da vida, do custo de vida e da pornografia na tevê.

Uma senhora já de idade lembrou-se da chuva e reclamou da roupa quase seca que “dormira no varal”. Uma mocinha ruiva falou de seus tênis branquinhos (recém-lavados, frisou) que agora estavam sujos de barro. Um rapaz acrescentou que não gostava de usar blusa, mas com “este friozinho de chuva” tivera de vesti-la...Meu vizinho, coitado, que trabalha em um lava a jato ainda não se decidira, por um lado, virão mais carros, mas por outro, toda aquela água fria: “Brrrrrrrrr...” Quando o ônibus chegou todos se entreolharam e, em consenso criticaram “aquelas rodas enlameadas que emporcalhavam o asfalto”. A porta foi-se abrindo e o motorista olhava com cara feia os sapatos dos passageiros que, apesar da serragem, iriam sujar o piso.

Chegando a meu destino, ainda meio sonolento, passei pelo pequeno jardim que ladeia meu caminho matinal. E o jardineiro de sempre, iletrado e mal-pago, me olhou e esfregando as mãos sujas de terra e geladas, abriu um sorriso e disse: “ Ontem à noite choveu! Minhas plantinhas vão crescer fortes!”

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