domingo, 10 de agosto de 2008

CÂNTICO ERÓTICO

Ela gemeu. Sim, e por Deus, como gemeu. E desejou gemer mais e mais alto. Desejou gritar, gritar de alegria, de prazer. Gritar mais e mais alto. Não, não pôde gritar, não poderia, e então abafou seus gritos no travesseiro, afundou seu rosto e gritava abafado. Chorava, mas não de dor, chorava apaixonada pela vida, chorava embalada, consolada pelos suaves solavancos de sua cavalgada. Eles a quiseram e nesta noite ela os queria a todos dentro de si. Nesta noite ela era a Grande Mãe, de cujo útero todos procedem e a ele, simbolicamente, todos se dirigem. Ela era em uma, todas as mulheres que já existiram e que ainda existirão. Hera, Pandora, Lorelei e Medéia. Ela era, nesta noite, a Grande Fêmea, devoradora de homens, misteriosa e faminta. Suas mãos crisparam-se nos lençóis, rasgando-os, e ainda assim ela queria mais, pois ela era todos e cada um dos grandes mitos femininos, e dos pequenos também. Aliás, principalmente dos pequenos, ela era cada uma das lendas sussurradas das grandes e sagradas divinas meretrizes...

Que venham as legiões escarlates de César, que venham as hordas de Átila – pensava – sou esfinge de esfíncteres aveludados, sou Jocasta, Penélope, Atena e Ártemis. Nada que é masculino me surpreende, nada me é estranho. E a todos ela acolhia, e a todos amamentava, às duplas, aos trios, aos bandos – ou era que parecia – íncubos às suas costas, ao seu redor, mas ela era Lilith, a rainha dos demônios, ela os comandava, ela os convergia às salas de seu palácio. Ela era uma santa, martirizada por hostes de vândalos. Ela era a Maria Madalena Universal. Ela era mais que uma mulher, ela era o próprio feminino, mãe, mulher, irmã, esposa, amante, fêmea, santa, concubina, poeta, súcubo, louca, homicida e genocida. Nela estavam encarnadas todas as mulheres do mundo e, nesta noite, somente nesta noite, o mundo e a humanidade eram dela.

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