domingo, 10 de agosto de 2008

ALIMENTA MEUS OLHOS

“Então Deus os abençoou e lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos; enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra.

Gênesis 01:28

“Pára, momento que passa... és tão belo!”

Goethe

Vem de súbito e, sem luar ou neon, verte o corriqueiro em extraordinário. Jantar, sorvete, café, cigarros, prosa... Prosaico até à medula, mas numa incomum empatia, sabemos o que o outro quer. E o que queremos é o mesmo.

As palavras, ao ritmo da velha noite, nos levam aquele cantinho escuro, úmido e quente de onde toda vida provém. Rimos naquela noite, embriagados pelo som de nossas vozes, que ganhavam novos nuances. Brinquedos de gente grande. Vivemos aquela noite como nunca. Vivemos aquela noite como poucos. E o fizemos como os dois últimos seres humanos (ou os dois primeiros), com a ânsia da divina tarefa de povoar a face da Terra.

Madrugada chega e já nos consumíamos em um fogo nunca visto. Tudo era chamas. Tudo ardia. Sem tu ou vós, o que restava era a pele. E o que há mais profundo que a pele? Só sei que fodemos lindamente naquela noite selvagem, linda, doce, como animais, como loucos. Fodemos sem nos tocar, só com os olhos. Só com os olhos.

Daquela noite, daquela noite insana, vertiginosa, maravilhosa, uma pergunta vem me atormentar: Como vou me perdoar por não Ter-te tomado o beijo que nós queríamos? Sim, pois por mais lindo que tudo tenha sido, a pele chama a si a pele. A carne clama pela carne e não há nada que torne mais amarga a recordação dos doces momentos que um eterno seria. Vem para mim. Ah, vem! Alimenta meus olhos. Minha fome de você é urgente. Você me é urgente.

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