domingo, 10 de agosto de 2008

FRAGMENTO BARROCO N.º 01

“Para o amor, a beleza e o prazer não há morte ou mudança, seu poder excede nossos órgãos, que não suportam a luz, sendo, eles próprios, obscuros.”

P. B. Shelley

Os dedos fluem ligeiros pelas fronteiras de seda da tua intimidade, e suavemente lêem em “braile” a beleza do teu corpo, as formas imperam ante a ausência muda da luz...és bela como nunca foste. És bela como só o são as mulheres no divino momento da cópula, a sagrada união dos corpos dos amantes inflamados em desejo. E ainda assim és mais bela, porque és única...és bela porque sempre foste a única.

Chegado o momento da lenta marcha rumo à nascente do orgasmo que em fúria transforma a doce calidez do regato da lascívia no violento torvelinho de águas barulhentas que ameaça engolir o corpo do amante e convulsivamente regurgita-o de volta à vida e aos mortais andrajos da carne , construto temporário onde luz e fogo se confundem e se consomem pois, qual lâmpada que em brilho e calor às outras excede e, efêmera, em escuridão mais cedo se recolhe, assim o vigor fenece. Teremos esquecido a chave de algum oculto reino onde a glória imorredoura da paixão seja eternizada em recantos junto a fontes? Teremos, porventura interrompido a jornada rumo a outras paisagens, outros horizontes...novos e belos horizontes?

Oh tempo, belo amigo, misterioso desconhecido, inimigo e algoz, por que não detém tua mão e saboreia este momento? Vem, pega uma taça, pára teu avanço, pára! Oh tu que passas, és tão inexorável em teu avanço... Apressa-te, então e consome-nos neste momento, e que nenhuma recordação reste para atormentar-nos quando extinta for a chama.

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