domingo, 10 de agosto de 2008

A HORA DO LOBO

Quem nunca sentiu seus negros desejos inconfessáveis açoitando-lhe noite adentro? Só as ovelhas, que são totalmente felizes. Quando tais pensamentos se lhes passam, imediatamente persignam-se. Têm a certeza vã de que pensamentos de outrem se lhes invadiu a cabeça. Pensamentos de lobo. Mas não, pobres felizes ovelhas. Mal sabem que a escuridão nos é indissociável. E quando o sol se põe só, quando nos recolhemos, só a luz que conseguimos reter interiormente pode-nos servir de lume, ainda que seja somente para dar contornos vivos aos horrores adivinhados.

Viver a verdade foi-lhes dito e elas pregam. A que verdade se referem? Que sabem ovelhas sobre a verdade? Que verdade lhes foi dita Conhecem elas seus demônios vermelhos da luxúria, ou os dourados da ganância, o escarlate da ira ou o verde da inveja? Não, as pobres balidoras, só sabem do que é seu... o pasto abundante e a hora em que o lobo se lhes insinua nos sonhos.

Elas não sabem que de si mesmas não há fuga. E que em si mesmas há a cura, a luz bendita da compreensão. A luz que a tudo desnuda e revela.

Gentis deliciosas ovelhas, só conhecem a grama verde e a hora do lobo.

Quanto maior é o humano, tanto maior é sua sombra

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