terça-feira, 14 de julho de 2009

No futuro, futebol!


1o Quadro:
Evacuação do Estádio Nacional de Uganda. Final da Copa do Mundo de 2.104. O terceiro dia de distúrbios civis originados no confronto entre a torcida macedônica e a torcida inglesa trouxe consigo a intervenção de tropas federais. Após intensos combates, ambas as torcidas, então aliadas contra o exército, puderam ser desalojadas de suas barricadas nas antes esplendorosas instalações da Jóia do Continente Africano.

2o Quadro:
A multidão vai sendo lentamente evacuada das ruínas ardentes. Lentamente eles marcham, mãos na cabeça, aproximando-se, em muitas filas, dos postos de identificação e triagem, sob a guarda atenta dos blindados e exo-trajes (a menina dos olhos da tecnologia bélica) e sob a vigilância dos helicópteros de apoio da infantaria ugandense.
Ao fundo ouve-se os últimos tiros disparados contra e pelo último foco de resistência instalado, em trincheiras cavadas no centro do campo. Macedônios e ingleses irmanados em sua obstinação de não serem capturados.
O perfil de gafanhoto dos helicópteros mais recuados cospe projéteis brilhantes e explosões iluminam os contornos do estádio. Uma aura de chamas eleva-se, coroando o estádio.

3o Quadro:
Dois meninos locais, escondidos embaixo de um caminhão de comunicação estacionado observam o espetáculo de chamas e luzes e sirenes entremeadas às ordens gritadas pelos alto-falantes e os gritos de júbilos dos vitoriosos e os de agonia dos vencidos.
- Vambora! Eles vão nos encontrar e vão nos levar e nos fichar também! A gente vai virar vegetal num reformatório! Vambora!!!
O outro, fascinado, observa um capacete de artilheiro de helicóptero, caído, esquecido, deixado no chão, alguns metros à sua frente.
- Tá bom, mas eu quero levar o capacete. A gente merece!
- Cê tá louco?!? Eles vão nos ver!!!

4o Quadro:
Um exo-traje, a glória dos armeiros da Krupp, Rodopia, semi-descontrolado. Ele dispara em todas as direções; seu ocupante grita mas o teor dos gritos é abafado pelo rugido dos canhões e o disparo de seus foguetes. O alvo é tudo nos 360 graus que o rodeiam.
O pânico se alastra pela multidão e entre os soldados a pé. Civis e militares tombam lado a lado, uns e outros tentam se proteger e uns aos outros. Um blindado explode, iluminando a carcaça enegrecida do estádio. Outros exo-trajes e blindados formam um semicírculo, a uma distância razoável, em torno do exo-traje descontrolado. Um helicóptero é atingido em seu estabilizador, pousa, em chamas. O piloto consegue escapar, mas o artilheiro é tragado pela explosão que se sucede quando o aparelho é novamente alvejado. Mesmo sob intenso fogo, o exo-traje continua varrendo as posições de seus atacantes.
Caos! A multidão uniformizada e os militares se dispersam, fogem em todas as direções à procura de abrigo, de proteção.

5o Quadro:
Um súbito silêncio, como que atendendo a um mudo cessar-fogo, ambos os lados calam suas armas. Ouve-se um solitário tiro e o capacete cibernético do exo-traje enlouquecido é arrancado. Um snipper... Um snipper!!! Sem o capacete, o traje torna-se inoperante! Claro, um snipper!!!
O capacete rola, lânguido pelo asfalto fumegante do estacionamento imenso. O tiro fora certeiro, talvez o ocupante indefeso do traje possa até ser resgatado vivo das ferragens de seu equipamento inerte. O capacete pára de rolar e cai, próximo a um caminhão de comunicações.

6o Quadro:
- O método de Gauss-Hopfer não está funcionando, vamos perdê-lo, senhor!!
- Talvez seja melhor assim, Major... talvez seja melhor assim. Os homens iam enterrar o coitado na cela mais escura e iam esquecer dele!
- Mas com certeza foi defeito no traje!
- E você acha que eles iam cancelar os contratos de defesa bilionários por causa de uns bostas como nós?!? Falha humana vai ser o laudo da perícia, que apostar?
- É uma pena... ele jogava um bolão, hein?
- É?!? Que posição?
- Ataque! Era artilheito do 25o de Infantaria Blindada Ligeira...
- Aqueles putos sempre pegam os melhores!
Eles se vão, deixando o corpo do jovem imberbe aos cuidados de uma dúzia de socorristas de graduação mais baixa.

7o Quadro:
Dois meninos locais escondidos embaixo do caminhão de comunicação se esgueiram para fora. Um puxa desesperadamente o segundo pela manga da jaqueta, este, só tem olhos cobiçosos para os dois capacetes que jazem a poucos metros de seus pés.
- Vambora, vambora!!! Eu não quero ser preso!!!
O outro abaixa, pega o capacete cibernético, recém chegado e aponta o outro.
- Tá bom! Pega o outro e a gente vai. Nós merecemos eles!!!
- Cê tá é louco!!! Vambora!!!
Ele se abaixa e pega o outro capacete, sopesa os dois, trasfere-os para uma só mão e diz:
- Então vamos, mas os dois são meus agora!
Saem correndo.
- Você é louco! Ia nos colocar em encrenca por causa destes penicos!!! Irresponsável!!!
- Mijão!
- Não sou, não!!!
- Eu tava deitado numa poça!
- Tava não!!!
- Tava sim!
- Histérico!!!
- Ladrão!!!
- Bundão!!!
Ambos somem na noite...

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