sábado, 26 de setembro de 2009

Henri Miller, Tropic Of Capricorn

"Há bocetas que riem e bocetas que falam; a bocetas malucas e histéricas com o formato de ocarinas e há bocetas abundantes e sismográficas que registram o subir e o baixar da seiva; a bocetas canibalistas que se abrem como as fauces de baleia e engolem vivo; há também bocetas masoquistas que se fecham como ostra, têm conchas duras e talvez uma ou duas pérolas dentro; há bocetas ditirâmbicas que dançam à mera aproximação do pênis e ficam inteiramente úmidas com êxtase; há bocetas porco-espinho que abrem seus espinhos e sacodem bandeirinhas na época do Natal; há bocetas telegráficas que praticam o código Morse e deixam a mente cheia de pontos e traços; há as bocetas políticas que estão saturadas de ideologia e que negam até mesmo a menopausa; há bocetas vegetativas que não apresentam reação a menos que você as puxe pelas raízes; há bocetas religiosas que cheiram como Adventistas do Sétimo Dia e estão cheias de contas, minhocas, conchas, excrementos de carneiro e de vez em quando migalhas de pão seco; há as bocetas mamíferas que são forradas com pele de lontra e hibernam durante o longo inverno; há bocetas navegantes equipadas com iates, que são para os solitários e epiléticos; há bocetas glaciais nas quais você pode deixar cair estrelas cadentes sem provocar uma faísca; há bocetas mistas que não se enquadram em categorias ou descrições, com as quais você se encontra uma só vez na vida e que o deixam queimado e marcado; há bocetas feitas de pura alegria que não tem nome nem antecedente e estas são as melhores de todas, mas para onde voaram elas? E depois há a boceta das bocetas, que é tudo e que chamaremos de superboceta, porque não é desta terra, mas daquele brilhante país para onde fomos há muito tempo convidados a voar."
(Henri Miller, Tropic Of Capricorn)

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