quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Um vício chamado CAP

Maringá, 14 de setembro de 2010


Magnífico Reitor,


Sou funcionário da Universidade Estadual de Maringá há quinze anos, doze dos quais, passados no Colégio de Aplicação Pedagógica, assim sendo, acredito ser razoável afirmar que conheço e entendo pelo menos um pouco do que estarei falando nesta carta.
Foram anos de opressão os oito primeiros que passei no CAP. Trabalhava na Secretaria Escolar do Colégio, submetido a humilhações por parte de minha chefia imediata (que já não se encontra no quadro funcional do Colégio), testemunhando e recebendo abusos. Abusos que não se limitavam à esfera profissional, mas que feriam os recônditos mais íntimos da dignidade humana. Tais abusos eram repito, perpetrados pela chefia imediata, mas com o aval da equipe de direção à época.
Recebi reprimenda formal, em primeiro lugar, por meu atendimento ser “educado demais” e depois, por seguir a orientação das chefias (imediata e geral), fui novamente repreendido por ser “mal-educado”.
Não fui o único caso de servidor assediado moralmente pelas chefias àquela época... fui o único caso que resistiu, e continuou trabalhando no CAP, acreditando no CAP. Todos os outros foram coagidos a pedirem remanejamento, remoção ou até exoneração. Nenhum destes atos era oficial, todos eram alavancados pela brutalidade, agindo extra-oficialmente, para garantir que a ditadura fosse invisível.
Professores tinham sua carreira ameaçada pela “profissional” encarregada pela supervisão pedagógica unicamente por discordarem de sua opinião, no que se configurava em uma espécie de “absolutismo” encravado no seio do serviço público.
Causa-me espanto ouvir pessoas alegarem que existem alguns pais de alunos reclamando da atual Equipe de Direção e que isso nunca aconteceu antes. Concordo com estas pessoas de que isso nunca aconteceu antes, entretanto, acrescento que isso, de fato, não acontecia porque os pais de alunos tidos como “problemáticos” eram chamado para reuniões extra-oficiais no Colégio e informados de que se não solicitassem transferência de seus filhos, “teriam problemas com o Conselho Tutelar”, numa verdadeira coação. Sob esta política terrorista, é natural que ninguém dentro da UEM jamais ouvisse falar de algum pai de aluno que reclamasse da equipe de direção destes períodos ditatoriais. Parece-nos razoável que a comunidade Universitária se assuste com as vozes que se erguem contra a atual administração... nunca antes foi possível erguer a voz e se expressar livremente, sem medo de represálias.
Curioso que a atual gestão receba a pecha de tirânica, uma vez que somente agora as oposições tenham o direito de se manifestar. Em outras administrações, o CAP era, efetivamente, uma “caixa preta”, de onde nenhuma manifestação dissonante da equipe de direção podia sair e na qual nenhuma informação podia entrar sem ser filtrada pelas oligarquias locais.
Interessante que da atual gestão se diga que levou o CAP ao caos, uma vez que é a primeira gestão que se ocupa de banir desmandos, práticas informais espúrias, práticas de assédio moral, e ingerência da res publica, que reinaram incontestes por quase 20 anos.
Causa espanto que a atual gestão seja acusada de práticas desleais, uma vez que cada uma das pessoas que a acusam encontram-se exercendo normalmente suas atividades e recebendo o mesmo tratamento que todos os outros servidores, sendo que nas administrações passadas a prática do expurgo e da coação obrigariam tais vozes discordantes a solicitarem remoção ou remanejamento do Colégio.
Surpreende-me que até o momento a luta dos servidores do CAP, assomados à Equipe de Direção, no sentido de moralizar as práticas vigentes no Colégio de Aplicação Pedagógica, cause furor, rotulada como tirânica, uma vez que este esforço vem ao encontro do preconizado no Artigo 5º da Constituição Federal, de garantir igual tratamento a todos, independente de credo, cor ou quaisquer outras especificidades pessoais. Além disso, os esforços de banir práticas escusas perpetradas sob a égide do Serviço Público atende a toda a legislação e, de maneira mais pungente, ao conceito de justeza, de sobriedade, de seriedade, imanentes ao próprio espírito das leis.
O que não me surpreende é que estes esforços meritórios serem mal-interpretados... Estes esforços coletivos, não só da atual Equipe de Direção, mas de todos nós, servidores da SETI e SEED lotados junto ao Colégio de Aplicação Pedagógica da Universidade Estadual de Maringá, no sentido de disseminar os saberes por meio do ensino, para formar cidadãos, profissionais e lideranças para a sociedade, são também preconizados pela UEM em sua missão (Res. 021/2005-COU). Nosso  compromisso com a formação de cidadãos éticos, reflexivos e autônomos; com a socialização do saber sem discriminação de qualquer natureza, são também os  princípios norteadores da UEM e, em última análise, permeia todo o fenômeno da Educação.
Talvez esta distorção grosseira de nossos esforços coletivos seja, de fato culpa única e exclusiva nossa, servidores lotados no CAP, pois permanecemos calados, sem divulgar adequadamente a magnitude deste esforço coletivo, ocupados que estamos trabalhando.

6 comentários:

Anônimo disse...

COM UM DISCURSO DE ESQUERA E O PÊNDULO PARA A DIREITA: O título ficou interessante, pena que o texto não. Sua posição diante na atual gestão parece um pêndulo a situação. A atual gestão conservou práticas anteriores, que se expressa no poder e na manutenção deste braço direito, que manda e desmanda. Apesar dos bilhetes emitidos só de ida, houve somente a troca de pessoas e a manutenção de práticas espúria e abusivas a res publica. Espero que a futura gestão da UEM nomeie algum que de fato restruture a ordem institucional e práticas sadias a educação e dignas do nome de esquerda marxista. Parece que chegou a hora da quinta coluna revelar a sua verdadeira face. O mestre mostrou bem sua personalidade, pusilânime em relação aos mais fracos e subserviente com os pares e superiores hierárquicos.

Anônimo disse...

APESAR DAS DISCUSSÕES É VÍSIVEL A MUDANÇA PARA MELHOR OCORRIDA NO CAP, A ATUAL DIREÇÃO ESTÁ MAIS ACESSÍVEL, E PELO MENOS PARECE MAIS EMPENHADA EM RESOLVER OS PROBLEMAS DO COLÉGIO. DIGO ISTO, POIS ACOMPANHEI TAMBÉM A ADMINISTRAÇÃO ANTERIOR E PERCEBI A DIFERENÇA.

Anônimo disse...

Sinto desapontá-lo caro amigo. Por sua explanação dos fatos posso afirmar que a atual gestão usou também de técnicas ditadoras e opressoras, com todos os membros da comunidade que pensavam de forma diferente da que a "equipe" pensava. Quem passou por essa situação sabe do que estou falando. A arrogância é a palavra chave que marca essa gestão.
Um país que não tem memória não tem história, um colégio que esquece o ponto de partida para as mudanças necessárias da situação que o colega expõe, infelizmente, demora mais para construir de forma efetiva sua história.

Anônimo disse...

Concordo com o colega ali em cima, "Quem passou por essa situação sabe do que estou falando" eu vivi essa situação e posso garantir que o colégio está muito melhor..

Anônimo disse...

Nossa!Fiquei comovido com seu discurso, é simplismente RÍDICULO! Você tem feito bem o seu papel no CAP, Chrystian Ronaldo,nesses anos de "dedicação" total ao Colégio, tomar cafezinho, fumar e ficar na internet e agora defensor dos terroristas do Colégio, realmente você se superou. Deixe que uma nova administração venha, para que possamos ter esperanças de um local de estudo e trabalho saudável, sem tirania. A Educação merece e agradece. Vá HIBERNAR, Urso Malvadinho!

Urso Malvado disse...

Ao anônimo de 22h22min.: Quem está comovido sou eu, o senhor (ou senhora) grafa impecavelmente meu nome a despeito de não saber soletrar a palavra "simplesmente"! Isto é impressionante!!!
Quanto ao resto da argumentação (se é que se pode chamar assim seu texto), se o senhor (ou senhora) acha que isso tem mais a ver com sucessão que com as palavras dignidade, profissionalismo, "sprit de corps", entre outras, não adiantaria explicar, o senhor (ou senhora) SIMPLESMENTE não conseguiria entender.
Quanto a meu desempenho profissional, minha folha de serviço fala por mim.